Uma cidade precisa de moradores, não de um estádio

Análise Editorial

O suporte entusiasta do prefeito carioca Eduardo Paes, em pleno ano eleitoral, à construção de um novo estádio nas proximidades do Maracanã é extremamente questionável. A Região Portuária, conforme defendido pelo prefeito ao longo de uma década durante seu projeto de revitalização urbana, carece de habitantes para se transformar em um novo centro de prosperidade e qualidade de vida na cidade. Não necessita de outro estádio para competir com o já reformado Maracanã, cuja renovação custou mais de R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos.

Um estádio de futebol no local do Gasômetro apenas afastaria possíveis residentes da região, ao invés de atrai-los, o que deveria ser a prioridade do governo. Isso representa um obstáculo ao projeto de revitalização do Centro, que visa incentivar mais pessoas a se estabelecerem na área central da cidade. Os problemas são evidentes, uma vez que a presença de um estádio gera aglomerações em dias de jogos, estimulando o comércio informal, tumultos e estacionamentos ilegais, exigindo intervenções policiais preventivas e a falta de ações municipais para regularizar a situação e proteger os moradores.

O novo estádio inevitavelmente resultará em congestionamentos significativos na avenida Francisco Bicalho, uma das principais vias de acesso à Ponte Rio-Niterói. A previsão de tráfego intenso e estacionamentos irregulares em calçadas e vias públicas é praticamente uma certeza.

Com a expropriação do terreno da Caixa Econômica Federal para a construção do estádio, o banco sofrerá um prejuízo considerável em dobradinha. Caso o projeto prossiga, haverá uma desvalorização dos terrenos próximos adquiridos pela própria Caixa como parte da operação urbana destinada a preencher o vazio urbano da Região Portuária. Esse plano visava inicialmente melhorar as condições de vida nos bairros locais para atrair empreendimentos habitacionais.

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A revitalização do centro da cidade não se beneficia da construção de mais um grande estádio de futebol. Em áreas distantes desse empreendimento, como Campo Grande ou Santa Cruz, sua presença poderia funcionar como um catalisador econômico. No entanto, na região central, ele apenas competirá com o icônico Maracanã, um patrimônio público que não pode ser negligenciado, sob o risco de tornar-se novamente um dreno de recursos públicos para sua manutenção. Um novo estádio tão próximo representa uma séria concorrência ao imponente templo Mário Filho.

O que a população carioca realmente precisa para redescobrir a área central como um local ideal para residir são medidas como uma Guarda Municipal mais atuante e eficiente, iluminação nas ruas, esquinas movimentadas, estabelecimentos comerciais, escolas, comércio ativo. É necessário ter ordem para impedir invasões como as da Rua do Livramento e arredores, promover feiras, cultura e calçadas arborizadas para promover atividades ao ar livre. Não há necessidade de outro estádio na região.

Por um lado, a Prefeitura acerta ao tentar revitalizar os belos armazéns do Porto para proporcionar acesso à Baía de Guanabara, conforme prometido mas nunca cumprido. Por outro lado, erra ao condenar a área do Gasômetro à obscuridade típica dos arredores de estádios. Isso não condiz com o que o Porto Maravilha necessita, nem o Rio de Janeiro como um todo. É preferível que tudo não passe de uma manobra eleitoreira, pois sua concretização seria um grande equívoco.

 


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